sexta-feira, 4 de maio de 2012

A Noiva do Senhor e a Política.

            Há um tema que há muito tempo vem me deixando perplexo e desconfortável. Confesso que tenho orado sobre o tal tema, e chego à conclusão que um dia a Igreja Evangélica Brasileira vai perceber o grande erro de ter entrado na política e buscar  coisas que  Deus não mandou buscar. Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus.  Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra [1]; não atentando nós nas coisas que se vêem, mas sim nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, enquanto as que se não vêem são eternas.[2] 
           
 O Brasil tem conhecido a força do voto evangélico, e têm despertado a cobiça de muito candidatos e partidos políticos. Na verdade, tem despertado também a cobiça de muitos líderes de diversas denominações. Líderes que viram no crescimento de seus rebanhos a oportunidade de conquistar prestígio, riquezas e poder. Aqueles que pensam que para termos um mundo melhor devemos conquistá-lo pela política estão redondamente enganados e desfocados da Palavra de Deus. Outros defendem a entrada de líderes evangélicos na política pelo fato de a Bíblia mencionar Moisés, Davi e Daniel como governantes. Porém, vemos que nenhum deles foi escolhido pelo povo e sim escolhidos e ungidos por Deus para governarem. Nesses homens vemos a soberania de Deus, e com propósitos específicos. Outro detalhe, nenhum deles eram sacerdotes.
           
Em nossa Igreja, temos ensinado nossos irmãos a intercederem e orarem por nossos governantes (Presidente, Governador, prefeito, ministros, secretários, deputados, vereadores, policiais, magistrados, enfim nossas autoridades constituídas). Exorto, pois, antes de tudo que se façam súplicas, orações, intercessões, e ações de graças por todos os homens, pelos reis, e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranqüila e sossegada, em toda a piedade e honestidade. [3] Não importa o partido ou religião de meu governante. Foi Deus quem o colocou aí, não foi Satanás. Não podemos duvidar da soberania de Deus. O governante pode até não ser servo do Deus altíssimo, mas o próprio Deus o investiu de tal autoridade. Toda pessoa esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus. Por isso quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação[4]Oremos por aqueles que Deus colocou sobre nós para que governem com justiça e honestidade. Que administrem com temor o dinheiro público a eles confiado. Intercedamos para que busquem a melhoria na qualidade de vida de seus cidadãos, nas áreas da saúde, segurança e educação. Se forem corruptos, déspotas ou nepotistas, e escaparem impunes à lei dos homens, sabemos que um dia, prestarão contas àquele que é soberanos sobre tudo e todos. Por esta razão também pagais tributo; porque são ministros de Deus, para atenderem a isso mesmo. Dai a cada um o que lhe é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra. [5]
         
   Muitos têm se esquecido da história do rei Nabucodossor na antiga Babilônia. Nessa passagem Deus demonstra sua soberania, colocando para governar quem lhe apraz. Estava então Nabucodossor passeando em seus palácios e gloriando-se de seus feitos: Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a morada real, pela força do meu poder, e para a glória da minha majestade? [6] Em seguida veio uma voz do céu: A ti se diz, ó rei Nabucodonossor: Passou de ti o reino. E serás expulso do meio dos homens, e a tua morada será com os animais do campo; far-te-ão comer erva como os bois, e passar-se-ão sete tempos sobre ti, até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer.[7]  O resto nós conhecemos, passado sete tempos (anos, meses??), Deus o recolocou no trono. Então, veio o rei glorificar e exaltar aquele que tinha domínio sobre todos os reinos.
            
 Vejamos a passagem de Pilatos: Disse-lhe, então, Pilatos: Não me respondes? não sabes que tenho autoridade para te soltar, e autoridade para te crucificar? Respondeu-lhe Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fora dado [8] Amados, não há autoridade que não venha de cima. Disse o nosso Senhor Jesus: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra (Mt 28.18). Oh, glória!
           
 A Igreja é a Noiva do Senhor, e a noiva tem que buscar e fazer as coisas que agradam o seu noivo. A Igreja quando entra na política é com o intuito de barganhar os votos do rebanho do Senhor. Barganham-se terrenos, prédios e verbas públicas, que até então, seriam destinadas a outras áreas de vital importância para a comunidade. Pergunto: Deus precisa de terras e dinheiro públicos desviados de suas finalidades? Nosso Deus está sim preocupado com a salvação de almas. Minha é a prata, e meu é o ouro, diz o Senhor dos exércitos[9].  A Igreja tem que confiar a quem serve e não em alianças com seus governantes. Há uma separação entre Estado e Igreja, apesar de a Igreja no decurso de sua história mostrar seu fascínio pelas coisas do reino secular. Na história de Israel também assistimos seus momentos de apostasia e mistura do sacro com o profano. Quando confiavam no Senhor, Deus os livrava de seus inimigos e exaltava Israel. Porém, quando faziam alianças com nações pagãs, perdiam as bênçãos e as conseqüências da desobediência eram inevitáveis: sacrifícios não agradáveis, apostasias, destruição, mortes, escravidão, doenças (..).
           
 Amados, quanto mais a Igreja buscar os poderes e riquezas deste mundo, mas ela se afasta dos propósitos divinos. As palavras que o Espírito diz às Igrejas nunca esteve tão atualíssimas: Conheço as tuas obras (..) Porquanto dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu[10];  Estaremos dentro das Igrejas louvando ao Senhor e o Senhor Jesus no lado de fora batendo à porta do templo para entrar. Além de triste, é cômico: Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei(..) [11]
            Como cidadão tenho direitos e deveres. Meu dever é votar, porém, como cidadão tenho o direito de votar conscientemente em candidatos que tenham propostas de políticas públicas para minha comunidade. Não sou contra evangélicos na política, sou contra a Igreja se envolver na política. Uma coisa é fazer valerem meus direitos de cidadão e votar. Outra coisa é usar a Igreja para  fins políticos. Criando currais eleitorais, metendo medo no povo de Deus. Amaldiçoando e aterrorizando aqueles que não votam nos candidatos “oficiais” da Igreja. Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não devem os pastores apascentar as ovelhas? Comeis a gordura, e vos vestis da lã; matais o cevado; mas não apascentais as ovelhas[12]. A falta de temor a Deus é tanta, que usam as dependências das igrejas para reuniões políticas. Chamam o povo à frente do altar, instigando-os a fazerem votos com Deus na obtenção de  votos para o candidato tal, e com o cúmulo de serem ungidos para tal missão. Amados, quantas perseguições e divisões se têm visto no meio das igrejas. Pastores e irmãos sendo perseguidos por não apoiarem os candidatos da Igreja. Esses são chamados de rebeldes e infiéis.
           
 Fico envergonhado quando vejo faixas e cartazes de candidatos em frente às igrejas. Bom seria se essas faixas fossem para advertir o povo de seus pecados e a se converterem de seus maus caminhos. Absurdo é ver carros com propagandas: vote no PASTOR Tal. Pastor segundo as Sagradas Escrituras tem que cuidar das ovelhas do SENHOR. Ou ele é pastor ou é político. O poder e a glória humana tem cegado os olhos de muitos homens de Deus.Que escolham então! Cada vez mais vemos ovelhas desgarradas e sem pastores. A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada não ligastes, a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza.  Assim se espalharam, por não haver pastor (..) As minhas ovelhas andaram espalhadas por toda a face da terra (..)[13] O ministério de pastor é maravilhoso. É um sacerdócio e honra conferida por Deus. Há muitos que estão trocando a primogenitura por um prato de lentilhas. Que Deus tenha misericórdia desses homens. Deixaram de buscar a glória de Deus, para buscar a honra e o prestígio dos homens.Sinceramente, gostaria de ver nossos candidatos evangélicos e nossos irmãos com o mesmo entusiasmo para evangelizar almas, quanto têm para distribuir santinhos e realizar carreatas nas ruas. Temos assistido a queda de muitos homens de Deus, e que perderam grandes ministérios. Mesmo os que não caíram, esfriaram e deixaram de alcançar promessas maravilhosas. A eternidade nos mostrará isso.
          
  Chega-se ao absurdo de se interromperem os cultos de adoração a Deus e darem a palavra a candidatos. Fico imaginando a atmosfera espiritual. Deus tem que se sentar, retirar seus anjos e esperar que o culto de “adoração a Ele” recomece, pois o povo agora está com outras preocupações. Outro dia assisti pela TV a candidata à prefeitura de São Paulo desfilando num caminhão na parada do orgulho gay. O desfile levou mais de um milhão de pessoas às ruas. A Tal candidata apóia abertamente o homossexualismo e o casamento gay. Passado uma semana, a mesma candidata estava num púlpito de uma grande Igreja Evangélica, fazendo campanha política. Onde queremos chegar com tudo isso? Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que põem as trevas por luz, e a luz por trevas, e o amargo por doce, e o doce por amargo![14] Será que estamos tão cegos e insensíveis ao Espírito de Deus que não percebemos mais o mal? O altar é um lugar sagrado, de reverência e temor. No altar devem os homens de Deus receber do altíssimo a mensagem que deve ser passada ao povo. Nessa ligação Deus e o homem, não pode haver impedimentos ou barreiras.

Por outro lado, a Noiva do Senhor não pode ser indiferente frente à injustiça e a impunidade, deve sim levar uma palavra profética aos governantes, no tocante as suas responsabilidades sociais e morais perante Deus. O papel da Igreja não é conquistar o mundo, e sim conduzir o mundo ao senhorio de Cristo. As nossas armas não são carnais, e sim espirituais. A nossa força não está e nem vem do mundo e sim do poder da cruz. Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.[15]    Infelizmente, não só o mundo, mas a Igreja quer aniquilar o poder da cruz. A cruz serve de escândalo até dentro das igrejas, porque não busca a glória e nem as honrarias do homem. Nesse caso o escândalo da cruz estaria aniquilado.[16] A cruz recoloca o homem no seu devido lugar, resgatando seu estado original e sua submissão ao senhorio de Cristo. E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim.[17]

Rogamos a Deus que a nossa fé evangélica venha despertar no povo brasileiro à vontade de conhecer a Cristo e servir a um Deus Todo-Poderoso. Que milhões venham a se converter pelo nosso testemunho. E eles (nós) o venceram (Satanás e o mundo) pelo sangue do Cordeiro (derramado na cruz) e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até a morte (nossa cruz)[18].(grifei). Aí sim poderemos gritar bem alto: FELIZ É A NAÇÃO CUJO DEUS É O SENHOR.

Calixto Antônio Fachini. (calixtofachini@hotmail.com). É Pastor da Igreja Evangélica Jardim de Deus-IJADE (Joinville-SC); Pós-graduado em Teologia pela Faculdade Luterana de Teologia-MEUC (São Bento do Sul –SC); Professor da Faculdade Teológica Refidim (Joinville-SC) e Professor do Instituto Teológico Jardim de Deus- ITEJADE (Joinville-SC).


 

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